Entrevista com Romeu Damaso

O professor Romeu Damaso há mais de 25 anos coordena ou colabora com projetos de longo alcance que estabeleceram as bases para a configuração atual da Escola de Design.
Nesta entrevista Romeu descreve um pouco de sua trajetória pessoal dentro desse processo evolutivo, a partir da década de 80, quando a escola buscou marcar uma posição junto ao empresariado e consolidar sua imagem como instituição acadêmica, pela constituição de uma rede extensa de contatos e parcerias bem como a participação sistemática em várias instâncias: congressos, seminários, exposições.
Além disso, também traça um panorama das atividades do Centro IDE (Integração Design-Empresa) e expõe alguns dos parâmetros do novo currículo dos cursos de Design.
Queríamos que falasse um pouco do seu percurso...
A minha trajetória é mais ou menos a seguinte: Sou de Maceió e fui pra Recife fazer engenharia. Cursei 3 anos e vi que não era o que eu queria. Um dia cismei e vim embora pra Minas. Chegando aqui fui trabalhar num escritório de arquitetura e engenharia de um parente e um dia ele me disse: “Olha, tô vendo seus desenhos, vocaí não gostaria de tentar um curso que chama desenho industrial?” Foi a partir daí que vim aqui para a escola.
Ah, foi ele quem te deu a dica?
Ele é um arquiteto, mas que trabalhava com construção. Até então eu realmente não tinha conhecido o que na época a gente chamava de desenho industrial. Ai eu vim aqui na escola no dia do vestibular e achei que era por aí. Gostei, fiz a inscrição e entrei pra escola, nos quatro anos normais. Entrei em 78 e formei em 81. Em 81 mesmo passei a ter uma monitoria em duas disciplinas aqui na escola e empolguei, já era presidente do DA e tinha um trabalho de envolvimento com a própria escola. Naquela época tudo era muito precário.
Eram os cursos de PV e PP ou era um só?
Eram cursos separados de desenho industrial e de comunição visual. Mas a gente de certa maneira se unia muito, porque tinha muitos eventos que foram feitos naquela época, a gente ainda aluno e recém-formado, foi quando a gente começou a ter ações conjuntas com professores. Ficamos amigos de professores de produto e de gráfico, houve alguns eventos e seminários que fizemos juntos ou participamos. Mas eram cursos separados.
Quando eu formei, então, em 81, a minha diretora me pediu pra eu continuar dando aula. Na época eu não tinha nenhuma idéia do que seguir uma carreira acadaímica. Eu achava que tinha que voltar, porque acabou a graduação e não tinha o que fazer. Bom, nessa ocasião, eu já tava começando com Fundamentos da Comunição, que uma disciplina que estava aberta, não tinha professor e eu assumi.
Estudei durante um tempo pra assumir. Foi ai que eu descobri que gostava de dar aula. Dois anos depois saiu uma bolsa pra ir pra Itália do governo italiano e daqui de Minas foram selecionados trás que eram profissionais e que tinham formado até a pouco tempo, no máximo traís anos, então o pessoal do CETEC me convidou pra preencher essas vagas e eu fiquei quase um ano na Itália, fazendo uma experiaíncia na escola de Florença e na cidade de Reggia-Emilia. Nessa ocasião eu tive a oportunidade de aprofundar mais meus estudos sobre o design e como eu estava com o meu orientador lá, que era professor da escola de Florença, eu assistia às aulas dele e passei a conviver com essa faculdade o tempo inteiro. Era uma escola pública também. Quando eu voltei da bolsa a minha diretora me disse que estávamos com problemas em Prática Projetual e que eu iria assumir a disciplina.
Foi a partir daí, desde 1984, que eu comecei a dar aula da disciplina de Prática Projetual e nunca parei. Já são 21 ou 22 anos que dou aula especificamente na disciplina de projeto (...)
Quando eu voltei, eu comecei a perceber que como eu já estava vivendo mais dentro do dia a dia da escola, das dificuldades e não só as físicas, que a gente vaí até hoje (nota: na data da entrevista a Escola de Design ainda estava no prédio do bairro da Gameleira), a gente precisava melhorar e investir na capacidade não só do ponto de vista mercadológico, tecnológico, melhorar a qualidade dos professores, já que naquela época era tudo muito difícil, com uma titulação em mestrado e doutorado eram muito poucos. Havia muita dificuldade da gente fazer isso. Tanto que foram muito poucos que saíram, não tínhamos uma oportunidade, como é hoje, em que há mais facilidade.
De 1984 a 86 foi quando eu assumi pela a primeira vez a chefia do departamento de projeto e logo em seguida eu fui por sete anos coordenador do curso de produto.
Suas aulas de pratica projetual eram para os dois cursos ou só
para produto?
Só pra produto. Depois participamos de comissões para o currículo
novo, naquela ocasião, e foi quando o curso passou a se chamar
Desenho Industrial com habilitações em Projeto de Produto e Programação Visual. Só agora recentemente é que muda novamente de nome e passa a haver cursos separados como o Design de Produto, o Design Gráfico e o Design de Ambientes. Mas na época a grande preocupação de nós que trabalhávamos com o desenho industrial ou desenho de produto ou design industrial, era essa confusão
semântica, ela foi sempre um problema muito sério, principalmente porque nosso diálogo tinha que ser com os empresários. Na área de comunicação visual isso se torna mais fácil, porque o nome já até ta dizendo, é algo que comunique visualmente. Mas no produto, o desenho industrial estava muito ligado à técnica, um desenho técnico e isso confundia muito a cabeça ou do aluno que entrava com uma certa deturpação, a palavra design estava começando a ser incorporada e era uma coisa muitolá de longe. Por que era longe? Porque era um modismo, uma coisa importada, estava muito ligada à questão da arte, era um design mais afinado, mais voltado para uma coisa puramente estética. A gente começou dentro da escola, alguns professores voltaram a dar aulas na escola depois de
suas próprias experiaíncias em escritório e esse convite ia se estendendo a um grupo muito grande de professores que estão aqui até hoje. Na época esses eram professores que se formaram até na minha geração de estudantes e que voltavam com uma carga de experiaíncia dos seus escritórios e trazia essa contribuição pra escola, pra reforçar e melhorar o curso que naquela ocasião era muito fraco. Por que era fraco? Porque não havia uma maneira da gente aferir qual era a filosofia desse curso, qual era o objetivo da gente, qual era o mercado que a gente queria atingir, sempre havia muito claro que fazer design era para as multinacionais e grandes empresas. Só nos últimos 15 anos que a gente entendeu que fazer design é uma coisa muito mais pragmática, muito mais voltada pra realidade que nós estamos vivendo. Seja do estado de Minas, depois no Brasil inteiro, mas uma
coisa com mais coeraíncia, mais pé no chão. Mas isso que falo de voltar pra realidade, isso demorou alguns anos. Nessa época, quando eu estava paralelamente fazendo a coordenação de curso e surgiram muitos problemas nessa ocasião que eram tentar refinar um modelo, tentar achar um caminho de design e eu dávamos aula também de design gráfico nessa ocasião, de semiologia e fundamentos da comunicação. Então foi muito interessante porque a gente pode trabalhar melhor juntos, alguns professores trabalhavam nos dois cursos e a gente começou a formatar algumas coisas mais interessantes, inclusive juntos. Nessa ocasião, num desses momentos eu montei o centro de extensão e junto com o centro de extensão, a minha colega Bernadete montou o laboratório de design e foi um marco, uma referaíncia na história do design gráfico das escolas
brasileiras. Anos depois - ela pode falar com mais precisão, porque é uma das pessoas importantes na questão do design mineiro nessa área de design gráfico - nós fizemos muitos trabalhos juntos e isto foi um ponto positivo pra todos nós. Dentro desta inquietude de querer saber como que o empresário, pra onde estão indo nossos alunos, onde é que eles estão, se eles estão trabalhando em empresas, o que que eles estão fazendo, havia uma desistaíncia muito grande. A gente tentou então fazer algumas exposições, foi um dos primeiros trabalhos que
nós fizemos, foram umas mostras organizadas e patrocinadas com o apoio de empresas. Essas exposições começaram em 1986, quando teve a primeira, e depois durante 10 anos elas sistematicamente continuaram. Elas só morreram quando passamos pro regime da Universidade, foi um regime muito complicado, em 93, foi quando a gente resolveu parar porque já estava sobre um outro momento e precisava repensar em torno daquele modelo que a gente estava fazendo. Estas exposições consistiam no que havia de melhor dos trabalhos acadaímicos dentro das disciplinas de prática projetual. Conseguíamos patrocínios com empresas não só para que bancassem o evento, não só que bancassem o protótipo ou mesmo a própria oficina, onde os alunos trabalhavam num regime de liberdade muito naquela ocasião sobre a nossa orientação, sobre a participação dos colegas professores que orientavam e melhoravam a qualidade desses produtos. A gente contava com projeto iluminotécnico, projeto museográfico. Foram sete anos no espaço cultural da IBM Brasil, que era um belo prédio que tem ali na Av.Getulio Vargas, onde hoje é o jornal Estado de Minas. Isso tinha uma repercussão muito grande na imprensa. A gente conseguiu uma coisa inédita que era uma página no Estado de Minas, uma página no Hoje em Dia, inserções em jornais da televisão local e isso dava uma visibilidade muito grande. Porém a gente percebeu, eu mais especificamente percebi que isso ainda não era o suficiente, que tínhamos que trabalhar outras motivações pra efetivamente trazer o discurso de um design real pras empresas, pra gente crescer o número de estágios, o numero de participações nas empresas, dentro deste contexto de que a formação do profissional só vai existir se vocaí efetivamente tiver com uma aceitação por parte do mercado. Quando eu digo o mercado é aquele que a gente vai efetivamente trabalhar pra ele, no caso são as empresas mineiras. Durante esse tempo nos fomos amadurecendo e saímos desse espaço, fizemos a oitava mostra no Palácio das Artes, foi a principal, e de lá nos saímos pro Ponteio. Fizemos as duas ultimas, a nona e a décima, no Ponteio. O mais interessante que eu acho que é relatar sobre essas exposições e que elas não só motivavam todo um talento, que era a nossa idéia, que era motivar que a sociedade, os empresários, a imprensa visse um design de qualidade que estava ali. A idéia era mostrar os novos talentos que estavam fazendo o curso de design e que estas empresas tivessem a oportunidade de contratar esses alunos. Não é fazer um banco de negócios ali, não era vender projetos, a idéia era vender talentos. E na mesma época nós montamos o praímio Qualidade de Design e conseguimos fazer uma banca, um júri com convidados empresários, geralmente tinham outras pessoas de outros estados - conseguíamos patrocínio de
passagens aéreas e fazíamos um coquetel onde eram
divulgados os praímios. O júri vinha quatro a cinco horas antes e fechava os ganhadores, que geralmente ganhavam não só os títulos de primeiro lugar, segundo, terceiro e menção honrosa, mas também ganhavam praímios de produtos desenvolvidos por empresas mineiras e que tinham de uma certa maneira designers trabalhando com ela.
Aconteceu isso com a Madeirense, com a Forma, apesar de ser só uma loja, em empresas como a Móbile Design, a KR Design, que foram empresas de profissionais ou ex-alunos. A intenção era que esses praímios tivessem um caráter mais simbólico de que tava valendo a pena esse tipo de ação, mas mesmo assim a gente e digo eu, não só na coordenação de curso e também na coordenação do centro de extensão e coordenando essas exposições, nós achávamos que devíamos trazer a sociedade, a comunidade, aos pais dos alunos e família, que eles trouxessem empresários amigos para um evento dentro da escola. Foi aí que a gente inventou a Semana D, que durante quatro anos nós fizemos um evento interno onde, durante até uma semana, a escola parava pra trazer uma série de eventos como palestras, mini-cursos, oficinas, tinha show, tinha festa, tinha
exposição de projetos onde cada grupo de professores era responsável por uma sala de aula. A idéia era que as famílias viessem à escola para ver e entender e que convidassem empresários e tudo. Isso foi sempre muito inquietante. A nossa participação pra divulgar o curso de uma maneira coerente. E ai começamos a ser convidados para eventos nacionais, a dar palestras, e graças a essas mostras a escola passou a ter um visibilidade muito grande no meio acadaímico brasileiro. Existe um dado muito importante que geralmente fica muito esquecido pelas pessoas que escrevem sobre design no Brasil que é o advento do CETEC em Minas Gerais, porque foi a primeira instituição pública onde vocaí tinha um grande laboratório atendendo as empresas mineiras. O outro foi um laboratório em Florianópolis, o Laboratório Brasileiro de Design, criado e coordenado por um ex-aluno da escola que chama Eduardo Barroso que durante 10 anos manteve uma infra-estrutura em Florianópolis que é invejável, porque possuía não só os cursos de capacitação, cursos de curta duração com profissionais e professores de universidades estrangeiras, ela tinha bolsistas do país inteiro e bolsistas de vários
países do mundo. Esse dado é importante pois a escola tinha um relacionamento muito bom com o laboratório. Então muitos dos professores que iam ao laboratório, da Alemanha, de Cuba, do México, vieram também para cá para dar um treinamento graças a esse nosso relacionamento. Conseguíamos trazaí-los para que eles dessem mini-cursos dentro da área. Me lembro que a gente trouxe na época uma designer alemã que trabalhava só com a cor no produto, trouxemos um curso de render com um doutor que é da Universidade do México e por aí vai. Isso foi muito legal porque aproximou muito o que estava se fazendo no mundo em termos de design. Nessa ocasião foi tudo muito junto pois o laboratório era associado ao Conselho Internacional das Entidades ou Sociedades de Design de produto, ele fica na Finlândia e tem sócios no mundo todo. Nessa ocasião também muita coisa aconteceu, eram tantos eventos: eu fui júri da bienal brasileira de design em Curitiba, tivemos um NDesign em São Paulo em que fomos convidados com a universidade do Paraná a representar as duas escolas que mais tinham praímios nacionais. Montamos uma mostra bem significativa do que estava acontecendo tanto em gráfico quanto em produto e foi um trabalho com uma
repercussão muito legal, porque isso sai de Belo Horizonte e vai para um ambiente como o Morumbi Shopping. Isso foi muito bom para a gente como experiaíncia. E a partir daí nós passamos a sermos convidados a escolas do Brasil inteiro. Isso começou a dar uma curiosidade muito interessante em nossos colegas. Depois houve um certo momento de parada, na época da transição entre a antiga FUMA e a UEMG, tudo ficou muito confuso. A gente não sabia exatamente o que iria acontecer com os professores. Havia já uma demanda pressionando por uma mudança muito forte, como no caso do currículo, etc. Eram muitos problemas ao mesmo tempo que dentro da academia nós tínhamos que analisar. Por um lado era fazer uma divulgação do design de uma maneira coerente, que não caísse nas banalidades de um design puramente efaímero. aí a gente começou a reformular algumas coisas dentro da nossa maneira de trabalhar o aluno de uma forma mais integrada, sem se limitar a simplesmente vir à escola. Nós tínhamos que criar mecanismos para eles participarem mais. É claro que não conseguíamos atingir a todos, mas para aqueles que tinham interesse era preciso que eles trabalhassem de alguma maneira em algumas coisas. Nessa ocasião o CPQD cumpriu, em tese, essa lacuna do técnico cientifico, que era a pesquisa, escrever artigos, o projeto Sabiá, etc. Isso tudo na época foi pioneiro e o que é mais fantástico é o que está acontecendo hoje na escola. Se pudéssemos analisar a escola de frente para trás seria mais interessante, porque nesse ano de 2005 a gente consolida aquilo que foi proposto pelo novo projeto pedagógico, que é essa abertura dos centros de design dentro da escola, para a capacitação de professores e recém formados. Vamos tentar explicar isso por partes: o que aconteceu quando entramos nesse marasmo, nessa mudança dos ordenamentos da universidade? Era preciso que a gente também fizesse alguma coisa. A gente não podia ficar parado e desistir porque as coisas eram difíceis, porque sempre foram muito difíceis e nem por isso a gente não fazia. Essa capacidade da escola dá uma moral, uma experiaíncia de vida de 40 anos, que outros podem até fazer, mas é diferente, uma experiaíncia que é só nossa. Hoje vocaí pode ter um
número muito grande de cursos de design, mas ninguém vai concorrer diretamente com a gente, porque a gente tem essa história que nos permite dar continuidade. Às vezes não temos o material mas temos os recursos humanos, que é o que há de melhor. E o mercado precisa é de competaíncia, pensar certas coisas e não achar que é só encher uma sala de MACs que vai resolver o problema.
Bom, só fazendo um paralelo do que está acontecendo, quando foi em 98 eu fui fazer um mestrado em engenharia de produção e me afastei um pouco da escola, continuei dando uma aula mas abandonei a coordenação para me dedicar ao mestrado. Em 2000 eu voltei, assumi outras disciplinas e resolvi montar o Centro de Integração Design Empresa. Se eu posso dar uma contribuição para a escola hoje eu me sinto realizado exatamente por poder fazer esse centro. Vou explicar um pouco melhor ele, pois ele é vivo, está no terceiro ano de existaíncia. Na ocasião a gente começou a fazer uma pergunta dentro de sala de aula, uma inquietude muito grande da minha parte, de saber para onde nossos alunos estavam indo no mercado de trabalho concreto. E ao longo da minha experiaíncia como professor eu vi que faltava na gente um diálogo com as pequenas empresas. Durante dez anos eu insisti na temática de como levar meus alunos a entenderem o pequeno negócio, que são as pequenas empresas que correspondem a 95% de toda a produção que nós temos no estado ou no Brasil. Porém, quando temos acesso a uma literatura especializada, que é pouca, não temos referência a elementos da gestão do Design na micro e pequena empresa. Foi aí que em 97 eu comecei a trabalhar com a temática de visitas sistemáticas dos alunos a micro e pequenas empresas, dar a eles a oportunidade de vivenciar na prática aquilo que a sala de aula não permite, que era conhecer in loco as instalações, maquinário, tecnologia, as próprias angústias dos empresários. Eles
viam uma série de situações reais que normalmente só teriam contato quando entrassem no mercado de trabalho. A idéia nossa era antecipar essa discussão e trazer para a sala de aula um debate mais amplo sobre isso. Com isso os projetos tinham uma realidade muito mais interessante do que vocaí ficar pensando em feiras internacionais, trabalhos limitados somente à interface estética, etc. Então essa decisão deu certo, logo depois começamos com outros colegas de outras disciplinas a pensar também com o mesmo raciocínio, trabalhando projetos mais integrados e com uma responsabilidade diferenciada com relação a negócios, empresa. Recentemente eu passei a dar uma matéria no décimo período chamada Gestão Profissional, que tentava entender quais são os mecanismos de trabalho real para nosso aluno, onde ele poderia elaborar um plano de negócios, rever e pensar a melhor maneira de ser profissional, já que em poucos meses ele estará formado. Dentro dessa inquietude a gente começou a pensar uma nova maneira de trabalhar isso.
Então, o que é hoje o Centro de Integração Design Empresa? Primeiro, ele é calcado em políticas de inserção do design na vida das empresas. A gente privilegia o pequeno mas não quer dizer que a gente não tenha parceria com a CEMIG, com a FIAT, com a prefeitura, SEBRAE, INSS, Fundação ACESITA, o Caritas Brasileiro, que já tem três anos que trabalhamos com o pessoal do design gráfico lá. Agora estamos implantando também o projeto das feiras, que é a inserção do design em comunidades de agricultura familiar. Então a gente vai desde trabalhar com a prefeitura com o projeto de implantação de um programa de capacitação e treinamento de produto de produção artesanal, com base em produção artesanal. Então o que é o centro IDE hoje, o que é interessante nele? Eu tenho hoje sete professores lá dentro, cada um com uma função de acompanhamento e gerenciamento de projeto. Tenho um professor na área de design gráfico, um na área de produto, um na área de gestão de projeto, eu que faço coordenação geral do centro. Tem um outro que trabalha só com o projeto Caritas, foi contratado ó pra orientar o projeto Caritas, por ser um projeto especial, amplo. O outro que é a professora Ana, que é a responsável pelo Programa de Design e Artesanato do Centro IDE.
Enfim, agora um dos mais novos contratados é para tocar a gestão de um projeto de uma incubadora em design, que vai abranger uma área maior do design gráfico, de produto e de ambiente, que é a incubação de novas empresas de design, através de todos os requisitos conforme faz parte da legislação, conforme está no edital, etc. Esse é um projeto que foi apoiado pelo Sebrae, essa incubadora, e que tem o apoio da reitoria. Então o Centro Integração Design Empresa está fazendo três anos, ele tem sete monitores, que são alunos do 9º período. São quatro monitores de gráfico e três de produto. E temos uma média de quarenta e dois alunos trabalhando lá dentro, em diferentes projetos. Ora com bolsa, ora como voluntários, ora como aprendizado para a bolsa. Nessa escala a gente conseguiu fazer com que sempre um do 9º, que coordena um colega do 7º, um do 7 º que se tiver bolsa passa a se chamar estagiário, e eles sempre carregam um do 5º como observador. E junto a um do 5º tem o projeto Creche que são alunos do 3º período do novo currículo, que vão estar lá acompanhando o projeto como ouvinte, pra que ele comece a ter uma noção do que ele irá ver na sua vida para a frente. E está sendo um grande sucesso, tem quatorze creches lá no centro IDE, e eles estão participando de vários tipos de projeto. Então eu acho que, sem modéstia nenhuma, se eu tive alguma trajetória que contribuiu para escola ou para o design mineiro foi isso. Foi ter trabalhado na área do fomento do design, da divulgação do design, na melhoria da qualidade do curso, tentando fazer um curso mais voltado para a realidade mineira, mais voltado para transformar um profissional, um profissional muito mais aberto, muito mais preparado para a realidade de negócios, de mercado, para que ele tivesse não ó a preparação tecnológica, metodológica, organizacional, mas também soubesse gestar a própria vida dele. Então é muito interessante você ver o aluno, o crescimento dele, não só intelectual, mas também gerencial, que é uma demanda hoje da própria realidade das empresas. E o Centro vem fechar esse ciclo, ó que com autonomia, a gente tem uma autonomia muito grande no diálogo com nosso cliente, ele está sempre voltado para a comunidade acadêmica, sempre trabalhando com alunos e professores, que é o nosso papel, é a capacitação de alunos para a inserção no design. E buscar políticas de design. Seja na produção artesanal, seja na agricultura familiar, são novas fronteiras de clientes. Seja na micro-pequena empresa, seja no micronegócio informal, que a gente faz atendimento a ele. Seja em trabalhos de ação social em parcerias, agora com a Puc, parceria com a Prefeitura. Enfim, a idéia nossa é fazer esse Centro crescer cada vez mais, e atender cada vez mais à capacitação desses alunos. Eu acho que aí a gente traça, mais ou menos, uma trajetória.
Você tem números de empresas, em média?
Não. Na realidade é o seguinte. Como a gente divide em quatro categorias de atendimento, a gente tem um atendimento que é chamado projeto especial. São projetos que requerem um planejamento mais estratégico, um planejamento maior. E aí nesse caso a gente desde parcerias com a çgua de Cheiro, parcerias com empresas privadas ou parcerias com ONGs ou pode ser um projeto voluntário, pode ser um projeto financiado. Um projeto especial é o Caritas, que já temos três anos de parceria. Como são vinte comunidades rurais, a gente precisa de um planejamento. A gente precisa de acompanhamento, porque as demandas são muito grandes, não ó as identidades corporativas das marcas, como embalagens, acompanhamento e a parte de gerenciamento da produção. A parte de central de compras, que a gente tem que gerenciar. Qual é a gráfica melhor que vai fazer esse tipo de produto. Na realidade a gente tá aprendendo a fazer um novo tipo de atendimento, que é refinar um diálogo com nossos clientes por mais difícil que ele seja. Então a gente considera esses projetos especiais.
Depois a gente tem projetos que são de atendimento individual, onde a gente atende a uma única empresa. Nesse, são em média 45 a 50 projetos desenvolvidos nos quase três anos do Centro IDE. No caso do atendimento imediato, é aquele que a gente resolve um problema com uma reunião. Então, pode ser nas chamadas clínicas tecnológicas, onde nossos professores participarão com ações do Sebrae, poder ser quando um cliente nos procura que é mandado por alguém conhecido ou por uma empresa, que quer tirar uma dúvida sobre o projeto e a gente atende a ele. Ele é imediato porque ele não tem vínculos, é voluntário. É um trabalho de orientação, procure isso, ou melhore essa qualidade assim, e isso gerou um projeto maior, que é a Inserção do Design no Micronegócio. Nós estamos com esse projeto no Ministério do Trabalho pra gente conseguir verbas para viabilizar isso, através da Prefeitura, que é um interesse dela, da Secretaria de Modernização. Um projeto especial que foi o projeto do Barro Preto que a gente fez, que é um projeto de inserção de mobiliário urbano. Um projeto especial que a gente fez que foi um plano integrado de turismo para cidade de Itambé. Itambé do Mato Dentro. Um projeto muito bonito, que tinha ações de design e ações complementares que não eram de design, mas que tratava da questão do turismo sustentável, com geração de renda, com uma série de coisas e que integrava arquitetura, urbanismo, paisagismo, gráfico, ambiente, produto. Era bastante interessante. Então essa era a configuração de um projeto que a gente acha que, pela relevância, pela parceria, pela complexidade, é um projeto especial. No atendimento imediato o atendimento à empresa diretamente, o atendimento imediato é curto, e por fim o atendimento em grupos de empresa. aí é o caso dos arranjos produtivos locais. Nós tivemos uma experiência em Timóteo com dez empresas, era um financiamento da Fundação Acesita com o Sebrae Minas. Foi um projeto com duração de um ano, com a participação de doze professores e alunos. É uma linha de produtos para um grupo de empresas de Timóteo na área de aço inox. Então são essas experiências muito ricas que a gente está o tempo inteiro produzindo. Agora a gente está numa fase de registrar isso em forma de arquivos, de artigos, participação em eventos, em congressos, para registrar essa experiência de gestão do design, de implantação de projetos de gerenciamento não ó do processo do design, mas também das negociações, que isso, ninguém define em lugar nenhum, é complicado. E a gente aprendeu muito nessa etapa.
Ah, o que nesses dois anos e meio rendeu de financiamento, revertido para a comunidade acadêmica, quem gerencia a parte financeira não somos nós, é a Fundação Renato Pereira, que é da universidade. Nós captamos esses recursos em forma de bolsas, de consultorias, de pagamento de professores e alunos, R$ 320.000,00.
O que é pouco...
O que é pouco em tese. Mas se você pegar um projeto da Cemig é um projeto avaliado em R$ 700.000,00. Isso nós dá uma tranquilidade, porque quando se fala em crise não tem isso, não tem aquilo, não tem computador, não tem mobiliário, não tem espaço, e a gente mostra que é possível sim. Porque graas a esses financiamentos que entraram, eles que bancam nossos computadores, nosso material de consumo, as bolsas dos alunos. Então nós estamos hoje com uma média de 16 a 20 alunos bolsistas. Então isso é muito pouco, a gente quer ter um número muito maior de bolsistas. Espero que na nova sede que a gente vai ter um espaço maior, que a gente vai ter uma possibilidade melhor de organizar, que a gente possa também ampliar o número de vagas da gente. Por que eu quero que agora entre o pessoal de ambiente que ainda não entrou.
Qual foi a evolução do mercado de sua graduação até hoje?
Eles reconhecem o designer ou há muito a se evoluir ainda?
Acho que é falho, acho que tem muito a evoluir, muito já evoluiu graças a essas tantas ações que foram feitas. Porém, ainda existe uma deturpação. Ora por parte da imprensa, ora por parte de alguns designers medíocres, que insistem que design é algo fácil de fazer, ou design só está ligado à estética do produto, ou à questão da arte. Tem muito picareta fazendo design mal, muito mal. E tem muitos empresários desinformados, talvez por não terem uma visão de uma política de desenvolvimento de produto. Cabe à nós contribuir com esse discurso.
Eu vejo que muitas coisas aconteceram, principalmente nos últimos oito, dez anos. Não ó nacionalmente, como em Minas Gerais também. Basta você ver que hoje nós temos dentro da escola esses centros em funcionamento dentro da escola, com áreas de expertise muito claras, o Centro de Design de Madeira, o Centro de Gema de Jóias que hoje tem laboratórios importantíssimos e parceria com a Anglo Gold. Isso dá uma dimensão de como o mercado em certas áreas vem crescendo. Sem dúvida nenhuma, por exemplo na área de design gráfico já existe o design gráfico com a cara mineira de qualidade. Graças exatamente a esses tantos anos que se produz uma boa performance no uso do design gráfico. No caso do produto, como a factibilidade produtiva de um produto é mais difícil, porque você requer um investimento maior, ele é realmente ainda passível de muita coisa a se fazer.
Mas se for pensar em relação ao meu tempo como alunos informados, não existia, e a prova é que ninguém na minha turma se tornou designer, cada um foi fazer...o que foi... Eu fui o único que fiquei na Academia. O resto foi desenvolver outras funções, menos design. Em compensação, eu vejo hoje alunos recém-formados aqui, se eu pegar a turma do semestre passado, 70% estão trabalhando com design. Isso pra mim é um dado extremamente relevante. Agora, ainda temos um longo caminho pela frente. Um desses caminhos eu acho que vem quando vem de uma ação governamental, por exemplo, como no passado houve uma ação do CETEC, mas era isolada, hoje você tem por exemplo a Rede Minas de Design que é uma ação do governo do estado, onde a UEMG é uma das responsáveis por ele. A primeira rede que vai acontecer é na área de design de moda, onde o responsável é Centro de Estudo de Móveis de Madeira, que é na Escola de Design. Então quando eu vejo isso, vai se associando à competência da capacitação, que a escola melhorou, ela melhorou porque capacitou mais seus professores. Cada vez mais está capacitando seus professores, os alunos também estão melhor capacitados, porque você tem uma filosofia e um plano do que você está formando, qual é o nosso cliente profissional, que perfil é esse. Agora o que deixa a desejar na questão da infra-estrutura é cruel. Isso é cruel, mas é um problema que não depende da gente. Então vamos fazer o que nos compete, que é competência.
Qual sua visão sobre o novo currículo da escola?
Eu participei de quatro currículos desde que estou na escola. O meu e mais três, já como professor. O currículo vigente até então, passou por modificações, mas não se podia mexer em documentos do MEC. Muitas disciplinas saíram de lugar. Algumas do décimo para o terceiro período. Para se ter uma idéia do quanto é difícil um currículo que foi pensado em 81 e foi implantado em 87, depois de passar por modificações nos anos noventa e chegar ao que vocês estão cursando.
É natural que depois de dez anos de encontros nacionais entre os dirigentes das escolas chegasse a um novo documento de consenso. Esse documento traçou não mais currículos mínimos como é o que estava vigente, mas conteúdos mínimos, divididos em quatro grandes categorias do curso. Esse novo currículo tem uma vantagem: ele não trabalha com disciplinas, mas com matérias, que trabalham com conteúdos, e esses conteúdos são abertos. Havia equívocos do tipo de disciplinas específicas vindas da engenharia. Hoje isso não tem sentido. Há uma abordagem chamada processos produtivos, que permite colocar projetos com interfaces da eletrônica, novas tecnologias. Não é mais o nome da matéria que restringe o conteúdo. Trabalha-se a idéia de se criar uma mentalidade que vai construir a noção do que é a teoria do design.
Esse novo currículo é muito mais flexível. Às vezes alguns alunos pensam que tiraram matérias. Não, não tiraram, apenas ampliaram-se os conteúdos. Quatro metodologias de projeto não têm mais sentido. Pode-se resumir isso e se voltar para outras áreas do conhecimento. A metodologia só tem sentido quando ela é aplicada aos conhecimentos.
A prática projetual deve dar as diferentes visões do que é a atividade real. Em produto isso significa atender todas as áreas industriais, independente do setor. Isso deve estar contemplado não no nome das disciplinas, e sim no seu conteúdo.
Outra vantagem é que esse novo currículo faz um envolvimento maior da comunidade acadêmica, seja através da extensão ou através da pesquisa. Nos permite, ao longo do tempo, modificá-lo em funções de nossas necessidades, o que nos dá uma tranquilidade maior. Pode-se criar um vínculo muito maior e diversificado com a área do conhecimento, do que no passado.
Em relação às mostras, vemos que hoje em dia elas não existem. Por que?
Existem. Eu vou te dizer porque. Nós fizemos três exposições em parceria com o Sebrae. A primeira, em 2001, houve um grande seminário junto com a exposição, que trabalhava o que havia de melhor em termos de design gráfico e de produto. Na era uma exposição puramente acadêmica. Foram convidados ex-alunos, que estão no mercado. A segunda foi no Minas Centro, já com 450 m 2 de exposição, com curadoria minha e da professora Bernadete. O terceiro MinasTec foi uma solicitação do Sebrae para divulgar o seu núcleo. Aí perdeu um pouco o caráter de divulgar a escola. Porém existem outros eventos em que estamos pensando em fazer, mas sem recuperar aquela mostra acadêmica e sim elaborar mostras mais temáticas. E isso eu prometo fazer, porque quero comemorar os três anos do centro IDE com uma bela exposição temática.
Como é a relação da escola com o governo?
Eu não vejo como uma relação fácil, até porque, a universidade é o patinho feio do governo. Se houvesse uma relação maravilhosa, faria como a UNESP, em que se tem uma destinação de ICMS pela lei, e a lei é cumprida. Com isso vai se manter a qualificação de seus professores, a qualidade das instalações e a sua manutenção com equipamentos, máquinas, laboratórios. Agora, eu sou uma pessoa muito esperançosa, porque nesses últimos 25 anos da minha vida eu trabalhei em cima das dificuldades. Eu me lembro de quando o professor José Olímpio vendeu um monte de ferro velho para pagar o salário dos professores. Então isso pra gente é antigo. O que vier em questão de equipamentos ou prédio novo é novidade.
Se não fosse tão difícil, eu não estaria montando a infra-estrutura que estou. Eu, meus colegas e os alunos que trabalham comigo. Então, eu vejo essa relação como um momento para exigir. O jogo político não é problema meu. Eu espero que mude essa configuração.
Esse novo governo, pelo menos, tem algumas ações de design que estão sendo levadas a sério. Eu parto do princípio em que estamos em um momento em que está iniciando aquilo que chamaria de melhor. Uma coisa que nunca teve. Está vindo aí um plano de carreira, concurso para professores, a possibilidade de um mestrado em design, a capacitação de professores. Eu estou vendo que há uma intenção da atual gestão da reitoria de tentar refinar essa série de coisas. Mas nem sempre isso é possível. Nós vamos crescendo dentro dessa perspectiva, e vamos crescendo. Eles mesmos não sabem o que a gente faz, e quando sabem eles tomam susto.
É interessante falar que a escola foi uma das convidadas a participar da próxima Bienal de Design e, foram mandadas a ela oitenta pranchas de trabalhos de gráfico e de produto. Isso vai dar uma repercussão fantástica,porque há uma belíssima qualidade de trabalho. Então, que sabe se essas ações recentes e as ações programadas, não venham a colocar a Universidade no lugar em que deveria estar. Em um lugar prioritário para o governo. Me parece que esse momento de comear
a construir algo novo está por vir.
Por que não se vê um relacionamento da UEMG com outras faculdades do Brasil e do exterior?
Eu vou te dar dois dados muito interessantes.
O professor Dijon de Morais acabou de lançar um centro de cultura do Estado. Ele tem um relacionamento com dez instituições européias e mais dez a quinze nacionais. Isso é um belo de um começo. Outro dado coerente que eu tenho é que nós estamos com uma parceria de professores que dão cursos lá fora, levando, de certa maneira, o nome da escola. Nesse nosso relacionamento com a UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina ) temos uma proposta de fazer o primeiro fórum nacional de todas as escolas estaduais de design, a UERG, UEBA, UEPA, UEMG.
Queremos dizer quem somos nós, universidades estaduais de design, o que fazemos e o que queremos. Numa segunda reunião, programada para o ano que vem em Santa Cataria, queremos discutir a idéia de se criar uma associação nacional das escolas estaduais de design. aí se pretende criar uma rede, para todo o mundo, com uma revista eletrônica indexada ao novo site da Escola. Ela teria, então, valor técnico-científico e, por isso, seria aprovada, apoiada e regulamentada. Assim, não só haveria um relacionamento de estudantes e professores, mas uma ligação entre todos os centros. Essa coisa mineira de ficar trabalhado em silêncio é muito cafona, é do passado. Eu acho que essas últimas ações que estão sendo feitas vão
ter uma relevância muito grande nos próximos dois anos.
Sinceramente eu acredito nisso.

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